segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POR TRÁS DAS ESCOLHAS (Uma história de todos nós) Capítulos III e IV (Coisas que fazem um homem ser só) - (Como será que o amor deve começar?)

Por Joaca de Castro


Uma história de amor como tantas outras... Todos os romances começam de maneira encantadora, claro que alguns são esquisitos e inusitados, mas, infelizmente  não há como prever o fim.

Todos esperam que termine em uma casinha confortável, depois de uma longa vida de amor e com muitos descendentes, mas o destino não funciona tão de acordo com nossos desejos.

Na vida de Dangelo, as coisas foram assim...




POR TRÁS DAS ESCOLHAS
Uma história de todos nós

Capítulo III: Coisas que fazem um homem ser só


Luiza - mãe de Isaah - tinha cinco anos quando, tragicamente, Flora se foi.  Dois meses após a morte dela, houve uma tentativa de sequestro contra a pequenina, no momento em que saia da escola:

- “Deus do céu, Sr. Dangelo! Chegaram dois homens em um carro vermelho, com vidros pretos, saíram do carro, pegaram a menina e partiram em disparada sentido ao centro”, relatou a professora, que sempre aguardava o pai de Luiza chegar para apanhar sua filha, pontualmente às 12 horas.

Senhorita Clarice tinha um apreço muito grande pelo recém-viúvo e lamentava vê-lo, com tamanha tristeza, fazendo o que era hábito de sua mulher fazer. Mas aquilo não era só um sentimento comum que se tem, como piedade ou pena. Clarice foi, durante muito tempo, uma admiradora secreta do homem que encantava seus ouvidos, durante o período de sua adolescência. Dangelo havia trabalhado na rádio local, no início de sua carreira, em um programa matinal que falava sobre cultura e cidadania.

Quando descobriu quem era o dono da voz que lhe fazia perder o ar, ela descobriu que o coração dele pertencia a ‘menina de ouro’ do colegial. Flora, pequenina, com seus cabelos longos e olhos profundos, era a garota mais bonita da 8ª série e todos queriam a oportunidade de namorá-la. Mas, com um gênio muito forte, ela não dava bola para os garotos de sua idade. Queria alguém com conteúdo, com planos e que pensasse no futuro de forma mais concisa, ou seja, alguém mais velho.

Elas nunca foram amigas. Clarice e Flora apenas se comunicavam de maneira social. Simplesmente “bom dia, boa tarde e boa noite” – quando se encontravam, ocasionalmente, na pracinha da cidade. Quando descobriu que seu amado estava encantado pela doçura de sua colega de sala, de início, Clarice passou a perseguir com conversinhas difamatórias – o que era comum dentre as garotas daquela idade – mas depois entendeu que com o amor não se brinca, e Dangelo estava realmente amando aquela garota. Mas voltemos ao fato:

O susto que ele levou ao descobrir que tal mal aconteceu com a sua filha levou Dangelo ao desespero total. Ele desfaleceu nos braços de Clarice – como um corpo que cai, sem vida, após um tiro certeiro – não contendo o terror que lhe corria o sangue.

- “Não se preocupe, Sr. Dangelo. Vamos nos mobilizar para encontrar sua filha e tudo vai terminar bem. Vamos procurar a policia primeiro. Lá, eles saberão nos orientar”, disse Clarice, tentando tranquiliza-lo.

Foram 3 dias de procura até que uma carta anônima informou onde estava a garota.

A carta dizia:

“Encontre sua filha nos fundos do velho armazém da rodagem”.

Mas o que realmente impactou profundamente na alma dele foram as palavras escritas pelos possíveis mandantes desse crime:

“O que será da vida de um homem que após ceifarem sua árvore ainda levassem o único fruto que sobrou dela? Atitudes geram consequências, não tome as suas!”.

Ele sabia que não estavam brincando. Ou talvez fosse ele quem estivesse brincando demais com a sorte – esta que lhe faltou ao levar Flora - e não devesse mais arriscar:

- “Perder Luiza, jamais!”, pensou ele com extrema convicção.


POR TRÁS DAS ESCOLHAS
Uma história de todos nós

Capítulo IV: Como será que o amor deve começar?


Aquele amor que lhe roubaram começou de maneira simples. Ousada, Flora certa feita resolveu ligar para o programa e questionar a respeito de um comentário feito pelo então radialista:

- “A classe média é a mais hipócrita dentre as demais, pois os ricos sabem definitivamente o que querem e os pobres conhecem o que verdadeiramente lhes faltam, e, falando da primeira, é notável que ela vive da sombra da segunda e da prepotência em contraste à última”.

Depois de alguns minutos de discussão ao vivo, a garota – enfurecida com os argumentos contextualizados do radialista – resolveu que iria pessoalmente até a rádio para falar com ele, e - se fosse possível – com seu chefe.

Dangelo não temeu, mas imaginou que receberia uma senhora balofa, com um rolo de massa nas mãos e soltando fogo pelas ventas. Quando viu aquela garota em sua frente, deixou soltar uma gargalhada de surpresa:

- “Poderia saber o motivo de sua risada? Pois além de mal informado és mal educado?”, indagou a garota, desafiante:

- “Sinceramente não esperava receber uma garota tão...”, ele evitou falar, pois não quis que ela pensasse que ele era do tipo machista:

- “Tão o que? Tenha coragem e termine de falar!”, retrucou a menina, que tinha as maçãs do rosto avermelhadas de fúria:

- “Uma garota tão feia assim!”, disse Dangelo, em tom de brincadeira e com um sorriso nos lábios:

- “Seu grosso! Não consigo entender como alguém como você conseguiu se tornar radialista. Que insulto para a profissão”, exclamou Flora, tentando ofendê-lo:


- “Garotas como você sempre vão procurar um pressuposto para justificar um erro em homens como eu. Sabendo disso e não fugindo, decidi mentir e te dar razões para sua opinião ao meu respeito. Se eu falasse que és linda, poderia achar que estou fazendo pouco caso de você, e isso, com certeza, eu não quero fazer”, disse ele em tom sério.

Existem momentos em que o tempo congela e deixa que o sobrenatural atue com precisão. Foi exatamente um desses momentos que aconteceu quando Flora olhou no fundo dos olhos dele, após ouvir aquela explicação. Mas ela não era nada fácil. Mesmo com a resposta dele, a menina não desistiu do entrave entre eles:

- “Então quer dizer que o Sr, acha que a classe média é hipócrita, né?”, questionou-o em tom de ironia.

Ele pensou em cantar novamente a garota, mas – baseando-se em seus próprios conceitos – resolveu responder o questionamento dela:

- “Ok. Me responda: Audi, Mercedes, Fiat, Chevrolet ou Honda? Qual tipo de carro você gostaria de ter?”:

- “Não sei... talvez um Mercedes”, respondeu ela:

- “Daqui a quanto tempo você terá esse carro?”, perguntou ele:

- “Sei lá... Quando estiver formada. Penso em estudar até ser PhD. Essas perguntas não fazem sentido”, indagou Flora:

- “Verás que faz. Então... Brejo Velho, Itiúba, Nova Constituinte ou Santa Rita? Onde será sua casa?”, perguntou Dangelo novamente:

- “Deus é mais! Não vou morar em nenhum bairro desses! Vou morar na capital, provavelmente na Barra ou na Pituba”, enfatizou a garota:

- “Bem... uma última pergunta: Onde você mora?”.

- “Moro em Noronha, mas é na rua principal! Perto da Av. Marechal Deodoro da Fonseca”, explicou Flora.

- “É isso aí, garota. Logo abaixo da Marechal fica Itiúba. Você olha todos os dias para lá e pensa: Deus é mais de eu morar aí. Um contraste muito forte que separa sua realidade à desse lugar, né? Daí vem as outras introspecções: desejas um Mercedes, sonhando com um futuro promissor que ainda não veio, além de querer morar num lugar relativamente abstrato à sua realidade. O exemplo claro de que a classe que você diz pertencer não só vive à sombra da riqueza como também menospreza a pobreza das classes baixas. Resultado: sem identidade, sem consistência e meramente hipócrita, porque diz sempre coisas que não condiz com sua realidade”.

Ela se pegou pensando nos contrapontos expostos por aquele homem, ao mesmo momento em que reparava no estilo simples, porém ajeitado, que o rapaz possuía. De certa forma ele parecia saber do que falava e isso a tirava do sério. Talvez fosse o fato de que isso lhe tirava o chão dos seus pés.

Já não conseguia mais pensar no paradigma existencial de sua classe. O que dominava seus pensamentos era a vontade de ver aquele homem que trajava jeans azul e camisa polo, sapatos pretos e cabelos bem penteados, usando bermuda, de peito nu e óculos escuros, lhe fazendo companhia em uma praia do litoral.

Ou talvez dirigindo um Mercedes conversível, rodando pela orla de Salvador... Mas seus pensamentos foram interrompidos pela voz rouca que vinha de um velho cheirando a cinza de cigarro, que o chamava para voltar ao posto, pois a segunda parte do programa já estava pra começar.

Depois desse encontro Flora passou a ouvir com outras ideias, as indagações do homem que conseguiu lhe arrancar suspiros. O visitou outras vezes até que o namoro começou. Casaram-se e depois de 3 anos veio a pequena Luiza, realizando o maior desejo do casal.

CONTINUA...

Capítulos anteriores:

Capitulo I As visões de Isaah

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Para o triste destino que se deu na vida amorosa de Dangelo, ouça Chasing Cars da banda Snow Patrol:




sábado, 28 de setembro de 2013

POR TRÁS DAS ESCOLHAS (Uma história de todos nós) Capítulo II: Cada homem com seu tempo... Cada dor com sua hora

Por Joaca de Castro


Nesse capítulo, vamos conhecer um pouco mais da história do avô de Isaah. Sr. Dangelo é um homem assombrado por seu passado. Dores e situações irreversíveis fizeram com que ele acabasse por desistir de lutar em prol dos seus ideais.

Um homem que viu seus amores serem levados pela vida e pelas consequências terríveis causadas por sua audácia e ousadia.
Boa leitura!!!


POR TRÁS DAS ESCOLHAS
Uma história de todos nós

Capítulo II: Cada homem com seu tempo... Cada dor com sua hora


Era como se as primeiras décadas do início do terceiro milênio retornassem e, aos poucos, aquela cena trágica se repetisse. Flora foi durante muito tempo a única pessoa que conhecia o seu estado de medo, mas não lhe bastava seus conselhos. Dangelo nunca cedia aos perigos que sua ousadia lhe impusera.

Naquele dia eram apenas eles dois, dirigindo pela estrada sinuosa da BA – 001, quando, de repente, sentiu faltar sensibilidade nos pedais. Em uma curva muito fechada, onde um despenhadeiro os esperava como se fosse um encontro inadiável, o carro perdeu o controle e caiu.

Ele ficou sabendo meses depois que o carro havia sido sabotado, e que a principal suspeita era a de tentativa, de certa forma com êxito, de queima de arquivo, pois ele tinha como provar o que todos daquela cidade sabiam, mas não tinha meios concretos de comprovar.

Inimigo político da família mais poderosa da região: a família Machado, Dangelo militava ao lado do povo, instruindo-os, de maneira fraterna e exata, como lutar a favor de seus direitos.

Não era um militante comum. Experiente, com larga história no ramo da Comunicação Social, sabia como ninguém dos podres que pairavam sobre os nomes nobres da região. Publicou, certa vez, num dos cadernos aos quais redigia textos jornalísticos a respeito do maior desvio de verbas públicas para fins pessoais, que a monopolista família que governava a sua cidade havia feito.

Nepotismo, superfaturamento de obras, falsificação de documentos..., Dangelo tinha o que faltava em muitos editores de sua época: coragem de romper com o lucro oriundo da impunidade.

Sua filha havia nascido fazia poucos anos e Flora temia o desemprego. Mas ele não era o tipo de homem que fica calado por muito tempo. Tinha o dom de expressar os fatos, sabia como fazer isso de uma forma que prendesse o leitor, e isso refletia em números expressivos de exemplares vendidos nas bancas:

- “Desculpe-me Cesar. Seu editorial não vai de encontro com a ética que estabeleci para os meus passos, e seria um grande choque se, ao invés de somar, minhas publicações levassem os leitores a ter uma visão critica negativa das outras publicações de seu jornal. Lamento, mas não posso aceitar”.

Por três vezes Flora tinha ouvido o mesmo discurso sair da boca de seu marido ao receber, em casa, a visita de donos de jornais locais interessados em tê-lo com editor de cadernos de política.

CONTINUA...

Capítulo anterior: As visões de Isaah

Para acompanhar os momentos tensos das perdas de Dangelo, Som Di Track indica a música The Blower's Doughter do Damien Rice:




Tributo a Pink Floyd com Banda Spectro no Movimento Outubro Rosa

Embalados na última declaração do músico Roger Waters, na qual o ex-líder da colossal banda de rock britânica Pink Floyd,   disse ter se arrependido de ter processado seus amigos que desejavam (e conseguiram) prolongar o grupo por mais alguns anos após sua saída, a felicidade toma conta dos representantes soteropolitanos desse culto religioso que é ser fã dos pupilos de Cambridge - Reino Unido. A banda Spectro, que há 12 anos vem revivendo os encantos progressivos e psicodélicos do Pink Floyd, será uma das atrações na edição 2013 do Movimento Outubro Rosa em Salvador, promovido pelo Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer – Naspec.
A banda se apresentará na noite do dia 09 de outubro, a partir das 21 horas, no Sesc – Casa do Comércio, localizado na Av. Tancredo Neves, n° 1.109, bairro da Pituba, onde contará com a participação de convidados ilustres da música baiana. São eles: Arôldo Macedo, Márcio Messender, Tuca Fernandes e Luiz Caldas.

Com muita maturidade, dedicação e amor, os integrantes: Aloísio Messeder (teclados, violão, voz), Maurício Chastinet (guitarra solo, vocais), Eduardo Gil (guitarra base, violão, vocais), Moacir Mallandro (baixo, vocais), Alex Canguçu (bateria), Júnior Sena (percussão e samplers), Ângela Moura e Juliana Bastos (backing vocals) reproduzem a essência e o prazer que é ser fã e tocar Pink Floyd. “A Spectro dedica-se com afinco para executar as canções do Pink Floyd e assim podermos “viajar” relembrando os solos de David Gilmour, a genialidade de Roger Waters, a melodia de Richard Wright e a sutileza de Nick Mason, o que causa, no público, reações inimagináveis”, afirmam eles. 

Quanto a responsabilidade de fazer cover de uma banda tão importante, eles ponderam: “A responsabilidade desta dedicação à obra dos mestres do rock progressivo é enorme, porém não existe nenhuma pretensão de se igualar ao som original, pois o compromisso da Spectro é levar a legião de fãs da maior banda de rock de todos os tempos para uma noite de satisfação e diversão com pura nostalgia”.

Esta é uma oportunidade única para quem deseja apreciar o bom e nunca velho Rock Progressivo do Pink Floyd, acompanhar o desempenho desses fãs/ídolos em suas performances e também participar e colaborar com o Movimento Outubro Rosa e o Naspec.

Para obter mais informações sobre a agenda do Movimento Outubro Rosa acesse o Blog da Naspec e também a página deles no Facebook.

Sobre a banda Spectro, acesse também a página da banda no Facebook e também o site oficial da banda www.bandaspectro.com.br.

Pra dar um gostinho a mais, confiram uma das apresentações da banda Spectro tocando Breathe, com a participação de Márcio Messender, no Teatro Jorge Amado que aconteceu em 2008:






sexta-feira, 27 de setembro de 2013

POR TRÁS DAS ESCOLHAS (Uma história de todos nós) - parte I: As Visões de Isaah

Assim como a música e a arte de compor, a literatura é um dos combustíveis para enfrentar a dura realidade da vida atual. Não saberia definir quais são os meus espelhos e exemplos na parte escrita da coisa, mas as histórias abrasileiradas de José de Alencar e todo o mistério nos contos do americano Edgard Allan Poe são, em parte, bases de inspiração.

Sem nenhum interesse de institucionalizar a coisa, e ao longo em que escrevo mais, (de dois em dois dias) vou lhes disponibilizar uma das minhas aventuras autorais. Uma trama que envolve temas atuais, mas também está embebida de surrealismo, paixões e Drama.

O nome se chama: Por Trás Das Escolhas – Uma história de todos nós, que conta os detalhes do presente, e passado dos personagens Issah (um jovem sonhador que sai de sua cidade do interior da Bahia pra correr atrás do sonho de ser um jornalista, na Capital, se espelhando nas histórias que ouviu falar sobre o grande comunicador que foi o seu avô) e Luana (uma garota cheia de traumas e mágoas por causa da agressividade que fora exposta por sua família).

Claro que disponibilizarei uma boa trilha sonora para cada postagem que venha a calhar com o enredo da trama.

Vamos nessa?

Boa leitura!


POR TRÁS DAS ESCOLHAS
Uma história de todos nós


Capítulo I: As visões de Isaah



Todos os dias eu encontro os mesmos desafios de sempre: procurar lógica para aquelas coisas que ficaram perdidas pelo caminho. Passo a diante todas as possibilidades que me são apresentadas. Em miúdos, sou um verdadeiro colecionador de desistências que nunca viu o doce sabor da atitude bem sucedida.

Mas não vamos ficar choramingando..., pretendo avançar nos critérios sistemáticos dessa história e termina-la o mais rápido possível.

Nem todo mundo têm a capacidade de desenvolver os dons que o nascimento lhes proporciona. Tampouco, nenhum ser vivente – sejam eles gente ou bichos – tem a exclusividade no que diz respeito aos dons. Virtudes são características qualitativas meramente individuais quando se enquadra a ação isolada de alguém, mas todos podem alcançar essa excelência.

Aquela cidade parecia uma armadilha. Suas ruas eram disformes e seus habitantes pareciam definhar na leveza sutil do caos metropolitano. No olhar, ninguém parecia ter vida. Era como se estivessem conectados via wireless a um programa de subserviência escrava. Mas ele estava no meio de tudo aquilo ali. Vivo, tentava enxergar algum resquício de autonomia naqueles rostos e corpos otimizados na uniformidade do trabalho.

A tortura que o mundo lhe apresentava parecia ser pior que os efeitos da péssima alimentação e postura ergonômica a qual todos os dias ele se submetia. Pensava: “como é possível se sentir cidadão, quando se anda em latas velhas enferrujadas, cheias de baratas e de péssima higiene?”. Mas se vivia, sim! Todos os dias os pontos estavam lotados, e ele – assim como todos os outros – estava lá, esperando o navio negreiro travestido de ônibus.

Ninguém poderia imaginar o que se passava na mente de Isaah. Em contrapartida, ele também não sabia explicar se aquele comportamento inerte coletivo era, de fato, exato. Sabia que havia algo de estranho nos olhares. Percebia que o conformismo que possuía o comportamento daqueles ‘gados’ era algo sobrenatural, ou talvez algum tipo de hipnose em comuna.

Jovem, Isaah só conhecia as coisas através dos livros e dos papos que, de forma descontraída, havia tido com gente de tudo que era canto do planeta. O mundo disforme, entrelaçado com a nova era da crise europeia que acometia os confins da Croácia, ou as belezas em contraste com a inquietação da juventude lúcida da Eslovênia. Muitas coisas não foram bem esclarecidas a respeito da separação que a guerra travada na então Iugoslávia reportada com tanto vigor pelo jornalismo inclinado, representado pela figura de um velho grosso e de pouca polidez, mas de vocabulário exemplar. Um tal de Boris de sei lá o que.

Jozar, Damir, Rok... Ao passo em que queriam conhecer as belezas de uma terra onde tudo dá, inclusive mulheres, que o hábito – o de dar – é comum, aproveitando da sua facilidade em ser natural (muitos diriam - como eles disseram - que ele conseguia ser honesto), Isaah sugava como um buraco negro todo tipo de informação possível a respeito daquele mundo tão desconhecido que era a Europa Oriental.

Não, não... Ele sabia que aquilo tudo que estava lhe perseguindo era fruto de algum tipo de subversão. Um controle invisível que estava deixando as pessoas cegas.

- “Mas que onda! Ninguém nascera para subsistir”, pensava o pobre Isaah.

Tentava enxergar a poesia rabiscada nas pichações espalhadas pela cidade, encontrar a beleza que poderia se esconder nas curvas das meninas uniformizadas, ou nas mais salientes, que por sua vez sabiam que alguém – como ele – iria reparar.

- “Será que hoje alguma garota sentará ao meu lado? E se sentar, será que ela vai reparar que, em meu pensamento, ela é tudo aquilo que minha fome de tudo quer?”, pensava ele, sonhador.

Mas afinal, quem é Isaah? O quê faz dele alguém de destaque que mereça estar nas linhas de uma história? Ninguém mereceria! São coisas estritamente características em todos os contos, crônicas e histórias. Mesmo assim é importante relatar quem foi ele. Isso faz parte do processo de entendimento a respeito de até onde ele chegaria, ou não.

Quem não gostaria de tê-lo para si? Issah não era belo, tampouco se caracterizava aos estereótipos buscados por qualquer que fosse os rótulos da vida. Diziam que ele tinha a cabeça grande, no qual, segundo as falácias urbanas, esse fato fazia dele uma pessoa propícia a ter uma Inteligência ímpar. Mas isso era muito relativo. Ele mesmo se sentia “um pedaço de todo mundo que conheço”.

Aos sete anos de idade perdeu os pais em um acidente de carro, viveu por longos anos com seu avô: um quitandeiro misterioso, respeitado e admirado por muitos moradores da pequena cidade em que viviam no recôncavo baiano.

Certa vez ele ouviu dizer que seu avô tinha sido um homem muito importante da região. Figura política respeitada por muitos que viviam ali, mas uma rixa ideológica tirou-lhe o que era de mais precioso. Desde então, segundo contaram-lhe, ele passou a viver de forma conformada e pacata. Sem se envolver com os assuntos administrativos de sua cidade.

Seu Dangelo era um homem assombrado por seus fantasmas particulares. Escondia por trás de sua voz mansa e gestos sutis, uma dor irreparável. Nunca havia visto seu avô sorrir. Também nunca o viu chorar, ops... Viu sim. Uma vez e só! Certa vez, ao pergunta-lhe a respeito de sua família, o menino descobriu um pouco da tristeza que acompanhava a vida conformada de seu avô:

- “Vô... Conheço a tia Suzy, tia Vaninha, tia Nair e muitos primos meus. Já vi fotos de muitos que moram em outras cidades e também dos que já morreram, mas nunca ninguém quis me mostrar uma foto da vovó. Por quê?”.

CONTINUA...

Som Di Track indica para esse periódico da confusa história de Issah a música Um Bravo da banda baiana O Círculo:





quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Uma adesão geral Por que não? Por Fagner Azevedo

Por: Fagner Azevedo e Joaca de Castro


A partir do último mês junho, o Brasil passou a perceber que a única forma de tentar mudar as bases políticas e lutar por melhorias é o protesto. Os movimentos que tomaram as ruas das capitais e grandes cidades do país, mesmo que sem um êxito excelente, provou o quão frágil é pensar que nossos gestores podem assistir nossas demandas.

Nessa perspectiva, por ver sua mãe, uma professora e sindicalista, lutando por direitos essenciais para a categoria, que é uma das mais importantes para a sociedade, e tendo em vista a luta que os colegas dela estão travando por conta da falta de responsabilidade da gestão do município de Vera Cruz, onde o atual prefeito não quer dar o reajuste salarial previsto em lei para a categoria, decretando assim por via do sindicato dos professores GREVE GERAL, Fagner Azevedo, (Um cara que vai muito mais além do que um grande amigo meu) resolveu questionar:


UMA ADESÃO GERAL, POR QUE NÃO?

Fagner Azevedo tem 26 anos, natural de Salvador, BA. Filho de professora e sindicalista foi militante estudantil e hoje é Cozinheiro Chef.

Pergunto-me: por que não pode haver uma paralisação nacional dos médicos e educadores com o apoio dos trabalhadores de ambos os setores, reivindicando não só melhores salários e "direitos" já previstos por lei? (Função essencial? Trabalho e remuneração digna também são!).

Fagner Azevedo em seu trabalho
Pergunto-me por que os médicos e educadores não se juntam para bater no principal problema que é o DNA dos dois sistemas; a estrutura física, logística, qualificação profissional, (onde não só na medicina e a educação pecam, mas todo o conjunto de áreas onde o estado brasileiro atua, dentro e fora do nosso território); reestruturação da forma de fiscalização, forma de contratação, captação de recursos, forma de como se fazer licitações, privatização, terceirização?


Não só na consolidação do plano de carreira, mas também deve se pensar no plano de metas a serem cumpridas, tanto quanto dos profissionais e também a qualidade de serviço produzido pelos mesmos, serviço esse a ser utilizado por nós, povo brasileiro, "eu, você, ele, aqueles, os outros, todos nós", não se esquecendo dos estrangeiros que aqui vivem e dos brasileiros que lá fora moram. (por que não?).

Vejo profissionais com empenho e raça sacrificando-se e sugando de si mesmos o melhor que tem para oferecer, e ao mesmo tempo frustrado por esbarrar em paredões de dificuldades que o órgão público produz, e eis que perguntar não faz mal... Por que não parar?

Para embalar as ideias a que o tema se refere, assista o vídeo da música Alegria Alegria, do cantor e compositor baiano Caetano Veloso:










Toni Frank o poeta do seu tempo


No último domingo (22/09), no anfiteatro do Parque Costa Azul, Orla Marítima de Salvador, no Festival de Educação, Música e Meio Ambiente - Femma, promovido pela ONG Ceasca Núcleo 21 em Cena, um poeta se apresentou de forma impactante e comovente.

Tão forte foi sua performance que Som Di Track se propôs a traçar um pouco do perfil desse homem corajoso que brinca com as palavras bem faladas...


Toni, momentos antes de sua apresentação com seus amigos 
O HOMEM DO SEU TEMPO

Não foi à toa que o Sr.  Antonio Carlos dos Santos, o Tonho Chapéu, antigo camelô da era de ouro da Barroquinha e Baixa dos Sapateiros,  que negociava com os camelôs de lá, da Avenida Sete de Setembro, Calçada,  Aquidabã e Rodoviária...,  e a Dona Celeste Britto Cardoso, menina que veio de Milagres, interior do Estado,  para Salvador e aqui se estabeleceu, e também Dona Helena Cerqueira, irmã de Seu Tonho, “Dinda” do cabra, que assumiu toda a sua criação, quando se separaram pais se separaram ainda pequeno... Não foi atoa que essas figuras ímpares decidiram dar ao poeta, nome de artista.

No primeiro dia do mês junho de 1978, nascia Toni Frank Britto. Soteropolitano, ingressou no mundo por via da maternidade do Hospital Santa Izabel, no bairro de Nazaré.

Por  26 anos, viveu na na barroquinha, fim de linha, casa de número 06. Aí o destino lhe direcionou para os longos 4 meses na Ilha de Itaparica, Município de Vera Cruz, posteriormente viveu por 1 ano em Fortaleza e depois regressou para Salvador, onde mora atualmente no Largo do Tanque (de passagem).

Estudou da primeira a oitava série no antigo Ginásio de São Bento (hoje Colégio São Bento). Foi lá que, segundo ele, teve toda a sua personalidade formada. Começou a escrever poesias, iniciou ainda tímido sua militância política e definiu que seria advogado. “quase virei monge”, afirma brincalhão.

Tudo isso sob a tutela e orientação do saudoso Dr. Norberto de Sant’anna, Diretor da instituição, por décadas, e que foi uma espécie de guru e segundo pai para ele. No segundo grau, passou pelos Colégios Núcleo (momento em que foi presidente de grêmio, entrei para o Partido Comunista do Brasil - PC do B, União da Juventude Socialista -  UJS e foi diretor da União Municipal e Metropolitana dos Estudantes Secundaristas - UMMES), depois Democrata e finalmente Universidade Católica do Salvador - UCSAL, primeiro no curso de História, onde não se formou, devido a uma professora que lhe fez desistir do curso e fazer novo vestibular para Direito. Na Católica, lancou o livreto “Retalhos de Juventude”.

Foi Coordenador Geral do Diretório Central Estudantil - DCE, do Centro Acadêmico - CA de Direito, e Conselheiro Universitário por duas vezes. “Costumo dizer que a UCSAL me deu régua e compasso, lembrando a citação do Reitor Professor José Carlos Almeida, outra figura importante, com quem aprendi a arte da negociação, importante hoje para a advocacia”, afirma satisfeito.

Seu trabalho mais notável, mesmo que buscando a modéstia pra relatar, disse ter sido como militante estudantil. “Orgulho-me de ter participado da construção de um programa de inclusão social na UCSAL, criando um programa de créditos e benefícios que fez da UCSAL a universidade mais negra da Bahia, quem sabe do Nordeste ou do país, quando nem se falava em cotas e reparação”, orgulhando-se confiante, e ainda completa: “Como Poeta seria uma imprudência e injustiça dizer que tem este ou aquele poema, que seria melhor do que um outro, até porque a Poesia não nos pertence, somos apenas seu fio-condutor e como advogado estou apenas começando”.

Apaixonado por viver e sua complexidade, ele ama e se inspira na vida, além do amor (musa/ídolo de todo o poeta), pelo povo e sua luta por mudanças e melhorias de vida, o por do sol, o brotar da flor, o mar, o mato (revigorante mato), o sorriso , a brincadeira e a inocência da criança... enfim, tudo que pulsa vivo.

Sobre poesia e seus alcances ele não deseja nenhum: “Eu me entrego a ela como um apaixonado cego que não espera nada e tudo ao mesmo tempo”, explica em forma de verso e ainda completa, desfazendo da máxima primeira: “Penso que a poesia é algo que vem de um plano totalmente diferente deste, tem um toque divino, nos transporta para outras realidades, nos dá outra visão, mas, sobretudo é ela quem espera de nós, poetas, que cumpramos o nosso papel de ser como um fio-condutor, um aparelho de comunicação para que ela posa se expressar e se mostrar ao mundo. Para ela eu me entrego ao que ela quiser”.

Pedindo pra que se defina, o homem brinca com o além e o aquém: "Eu prefiro dizer que sou apenas um espírito em evolução, buscando ser livre", clareando as linhas difusas e completando a explicação com um simples “Só isso”.

Esse é o meu amigo, companheiro e poeta Toni Frank Britto, qual conheci pelas areias finas e brancas da charmosa vila de Cacha Pregos, na minha tão estimada cidade de Vera Cruz, e que pretendo comungar discórdias e contextos até que se aproxime o fim dos tempos, para cantarolarmos juntos aquele velho samba pra lua...


Para conhecer mais sobre o trabalho de Toni acesse seu Blog Poesias do Fundo da Alma

Assistam ao vídeo onde o poeta exclama: Promessa final – O MANIFESTO:




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Música, Arte, Cultura e Sustentabilidade Ambiental marcou o fim de semana no Parque Costa Azul

Por: Joaca de Castro

O cair da tarde ganhou uma sonoridade nova no último domingo (22), no anfiteatro do parque Costa Azul, Orla Marítima de Salvador. E quem protagonizou a festa foi o Festival de Educação, Musica e Meio Ambiente - Femma, desenvolvido pelo Centro Educacional de Ação Social, Cultural e Ambiental – Ceasca Núcleo 21 em Cena. Uma organização não governamental que promove Arte, conhecimento e consciência sustentável para o meio ambiente.

Ao som da banda de reggae Semente Roots, o público curtiu, dançou e aproveitou do espaço, que há muitos anos não era utilizado para promover eventos à população.


Público jovem e diversificado que assistiu aos shows do Femma
O Evento, que começou no sábado (21) com as apresentações da Maracatú Encanto da Sereia (Orquestra afro instrumental), Banda Sopapo (Raul Seixas Cover), Cacau do Pandeiro (Pandeirista) e Irmandade Brasmorra (reggae), contou ontem com as apresentações da banda Arapuka (Raul Seixas Cover), Ato Cinco (Punk Rock), a poesia revolucionária do poeta Toni Frank Britto e os caras da Semente Roots que agitou e encerrou a noite de domingo com muito reggae.

Som Di Track esteve presente no evento e espera que o trabalho de trazer música, arte, cultura e meio ambiente para o espaço do anfiteatro do parque Costa Azul dê certo.

Se você compartilha com essa ideia, não deixe de curtir a Página da Ceasca Núcleo 21 em Cena no Facebook e conhecer um pouco mais desse projeto que pretende ampliar o conceito de cultura e lazer em Salvador.


Assista ao vídeo da apresentação da banda Semente Roots, gravado ontem no Femma: