Assim como a música e a
arte de compor, a literatura é um dos combustíveis para enfrentar a
dura realidade da vida atual. Não saberia definir quais são os meus espelhos e
exemplos na parte escrita da coisa, mas as histórias abrasileiradas de José de
Alencar e todo o mistério nos contos do americano Edgard
Allan Poe são, em parte, bases de inspiração.
Sem nenhum interesse de
institucionalizar a coisa, e ao longo em que escrevo mais, (de dois em dois
dias) vou lhes disponibilizar uma das minhas aventuras autorais. Uma trama que
envolve temas atuais, mas também está embebida de surrealismo, paixões e Drama.
O nome se chama: Por
Trás Das Escolhas – Uma história de todos nós, que conta os detalhes do
presente, e passado dos personagens Issah (um jovem sonhador que sai de sua
cidade do interior da Bahia pra correr atrás do sonho de ser um jornalista, na
Capital, se espelhando nas histórias que ouviu falar sobre o grande comunicador
que foi o seu avô) e Luana (uma garota cheia de traumas e mágoas por causa da
agressividade que fora exposta por sua família).
Claro que
disponibilizarei uma boa trilha sonora para cada postagem que venha a calhar
com o enredo da trama.
Vamos nessa?
Boa leitura!
POR TRÁS DAS ESCOLHAS
Uma história de todos nós
Uma história de todos nós
Capítulo I: As visões
de Isaah
Todos os dias eu
encontro os mesmos desafios de sempre: procurar lógica para aquelas coisas que
ficaram perdidas pelo caminho. Passo a diante todas as possibilidades que me
são apresentadas. Em miúdos, sou um verdadeiro colecionador de desistências que
nunca viu o doce sabor da atitude bem sucedida.
Mas não vamos ficar
choramingando..., pretendo avançar nos critérios sistemáticos dessa história e
termina-la o mais rápido possível.
Nem todo mundo têm a
capacidade de desenvolver os dons que o nascimento lhes proporciona. Tampouco,
nenhum ser vivente – sejam eles gente ou bichos – tem a exclusividade no que
diz respeito aos dons. Virtudes são características qualitativas meramente
individuais quando se enquadra a ação isolada de alguém, mas todos podem
alcançar essa excelência.
Aquela cidade parecia
uma armadilha. Suas ruas eram disformes e seus habitantes pareciam definhar na
leveza sutil do caos metropolitano. No olhar, ninguém parecia ter vida. Era
como se estivessem conectados via wireless a um programa de subserviência
escrava. Mas ele estava no meio de tudo aquilo ali. Vivo, tentava enxergar
algum resquício de autonomia naqueles rostos e corpos otimizados na
uniformidade do trabalho.
A tortura que o mundo
lhe apresentava parecia ser pior que os efeitos da péssima alimentação e
postura ergonômica a qual todos os dias ele se submetia. Pensava: “como é
possível se sentir cidadão, quando se anda em latas velhas enferrujadas, cheias
de baratas e de péssima higiene?”. Mas se vivia, sim! Todos os dias os pontos
estavam lotados, e ele – assim como todos os outros – estava lá, esperando o
navio negreiro travestido de ônibus.
Ninguém poderia
imaginar o que se passava na mente de Isaah. Em contrapartida, ele também não
sabia explicar se aquele comportamento inerte coletivo era, de fato, exato.
Sabia que havia algo de estranho nos olhares. Percebia que o conformismo que
possuía o comportamento daqueles ‘gados’ era algo sobrenatural, ou talvez algum
tipo de hipnose em comuna.
Jovem, Isaah só
conhecia as coisas através dos livros e dos papos que, de forma descontraída,
havia tido com gente de tudo que era canto do planeta. O mundo disforme,
entrelaçado com a nova era da crise europeia que acometia os confins da
Croácia, ou as belezas em contraste com a inquietação da juventude lúcida da
Eslovênia. Muitas coisas não foram bem esclarecidas a respeito da separação que
a guerra travada na então Iugoslávia reportada com tanto vigor pelo jornalismo
inclinado, representado pela figura de um velho grosso e de pouca polidez, mas
de vocabulário exemplar. Um tal de Boris de sei lá o que.
Jozar, Damir, Rok... Ao
passo em que queriam conhecer as belezas de uma terra onde tudo dá, inclusive
mulheres, que o hábito – o de dar – é comum, aproveitando da sua facilidade em
ser natural (muitos diriam - como eles disseram - que ele conseguia ser
honesto), Isaah sugava como um buraco negro todo tipo de informação possível a
respeito daquele mundo tão desconhecido que era a Europa Oriental.
Não, não... Ele sabia
que aquilo tudo que estava lhe perseguindo era fruto de algum tipo de
subversão. Um controle invisível que estava deixando as pessoas cegas.
- “Mas que onda!
Ninguém nascera para subsistir”, pensava o pobre Isaah.
Tentava enxergar a
poesia rabiscada nas pichações espalhadas pela cidade, encontrar a beleza que
poderia se esconder nas curvas das meninas uniformizadas, ou nas mais
salientes, que por sua vez sabiam que alguém – como ele – iria reparar.
- “Será que hoje alguma
garota sentará ao meu lado? E se sentar, será que ela vai reparar que, em meu
pensamento, ela é tudo aquilo que minha fome de tudo quer?”, pensava ele,
sonhador.
Mas afinal, quem é
Isaah? O quê faz dele alguém de destaque que mereça estar nas linhas de uma
história? Ninguém mereceria! São coisas estritamente características em todos
os contos, crônicas e histórias. Mesmo assim é importante relatar quem foi ele.
Isso faz parte do processo de entendimento a respeito de até onde ele chegaria,
ou não.
Quem não gostaria de
tê-lo para si? Issah não era belo, tampouco se caracterizava aos estereótipos
buscados por qualquer que fosse os rótulos da vida. Diziam que ele tinha a
cabeça grande, no qual, segundo as falácias urbanas, esse fato fazia dele uma
pessoa propícia a ter uma Inteligência ímpar. Mas isso era muito relativo. Ele
mesmo se sentia “um pedaço de todo mundo que conheço”.
Aos sete anos de idade
perdeu os pais em um acidente de carro, viveu por longos anos com seu avô: um
quitandeiro misterioso, respeitado e admirado por muitos moradores da pequena
cidade em que viviam no recôncavo baiano.
Certa vez ele ouviu dizer que seu avô tinha
sido um homem muito importante da região. Figura política respeitada por muitos
que viviam ali, mas uma rixa ideológica tirou-lhe o que era de mais precioso.
Desde então, segundo contaram-lhe, ele passou a viver de forma conformada e
pacata. Sem se envolver com os assuntos administrativos de sua cidade.
Seu Dangelo era um
homem assombrado por seus fantasmas particulares. Escondia por trás de sua voz
mansa e gestos sutis, uma dor irreparável. Nunca havia visto seu avô sorrir.
Também nunca o viu chorar, ops... Viu sim. Uma vez e só! Certa vez, ao
pergunta-lhe a respeito de sua família, o menino descobriu um pouco da tristeza
que acompanhava a vida conformada de seu avô:
- “Vô... Conheço a tia
Suzy, tia Vaninha, tia Nair e muitos primos meus. Já vi fotos de muitos que
moram em outras cidades e também dos que já morreram, mas nunca ninguém quis me
mostrar uma foto da vovó. Por quê?”.
CONTINUA...
Som Di Track indica para esse periódico da confusa história de Issah a música Um Bravo da banda baiana O Círculo:
Som Di Track indica para esse periódico da confusa história de Issah a música Um Bravo da banda baiana O Círculo:
muito bom o texto e como sempre o toque musical impecável, parabéns meu irmão! que venha mais e mais capítulos dessa intrigante novela.
ResponderExcluirObrigado, querido (a)!
ExcluirSó lamento vc não ter se identificado no coment, mas tudo bem!
Espero que as histórias do Issah e da Luana faça com que a juventude se identifique e busque ler e interpretar mais e mais!!!